terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Outro Lado ...

Há mais ou menos um ano atrás, este cidadão que pensava na possibilidade de morar na república, chegou na casa bêbado ( estado que deixa as pessoas hiper sinceras ), não sei se no meio de uma conversa ou aleatóriamente ele diz algo +/- assim : " Cá, você vai ver quando eu vier morar aqui, você vai aprender a gostar de homem!".
Eu já acharia isso inadimissível se fosse dito na rua, em um barzinho ou em qualquer outro lugar público. Mas o cara foi mais além, disse isso pra ela , na CASA dela!
Quem casa, quer casa. Quem tem casa quer no MÍNIMO privacidade, conforto e respeito dentro dela. Se o cara diz isso na casa dele, ok, é só virar as costas e ir embora. E quando é dentro da sua casa?!

Pode parecer o maior drama do mundo, uma tempestade no copo d' água, mas pra mim não se trata apenas de passar por cima de uma brincadeira ( de péssimo gosto ), ou esquecer as coisas que não me deixam sorrir. Fazer um favor, quebrar o galho de uma pessoa que desrespeitou a Carina, a casa dela ( sendo república ou não, é onde ela mora ), desrespeitou à mim e à nós duas como casal, é passar por cima de princípios.

Nós gays assim que colocamos nossos pés pra fora de casa sabemos que ali começa uma guerra, uma guerra que enfrentamos todos os dias se quisermos ser nós mesmos. Não é fácil sair de mãos dadas com a sua namorada na rua, você vai ouvir cantadas, vai vir gente atrás de você tentando te exorcizar, vai ouvir propostas indecentes, xingamentos ... simplesmente porque vocês estavam de mãos dadas. Não é fácil se assumir pra família, não é fácil assumir um namoro pra família e muito mais díficil conseguir ter a tranquilidade, a aceitação e o carinho que os relacionamentos heteros tem em casa. É complicado fazer com que a sociedade ( machista ) entenda que existem sim muitos gays promíscuos, muitas lésbicas "for fun" , essas pseudo-lésbicas não passam de HETEROS PROMÍSCUAS, mal resolvidas e que já foram "pegas de jeito" por muito homem, por muito machão que de tão ogro e bruto fez com que a menina repensasse na sexualidade dela.

Eu vou continuar não aceitando ouvir coisas do tipo em qualquer lugar, principalmente dentro da minha casa ( e nacasa da mulher que amo enquanto não casamos ).
Quando eu "saí do armário" as coisas em casa não foram tão fáceis, mas ainda assim se comparado com o que minhas amigas passaram, o lance em casa foi "mamão com açúcar". Independente do que cada uma de nós passamos em casa naquela época o problema maior era quando saiamos de casa. Eu já tive que correr MUITO de ( pseudos ) Skin Heads. Nós não corriamos porque éramos covardes, corriamos porque era o único jeito de nos livrar momentaneamente daquela covardia que tanto nos perseguia. E mesmo sem sofrer um arranhão, a humilhação , a frustração que sentíamos dentro de nós era avassaladora. Posso dizer que algumas vezes doía mais que muita porrada!

A gente demorou um tempo pra aprender lidar com essas situações, amadurecemos e apesar de tudo, ainda conseguimos nos mostrar seguras do que somos e do que queremos. E "ai" de quem ousar duvidar disso. "Ai" daquele que não respeitar. E "ai" daquele que tentar nos afrontar.

Pra mim , esquecer tudo isso só porque não me faz sorrir é desistir de tudo o que lutei e conquistei até agora. É jogar no lixo o sofrimento de muitas outras mulheres que lutam pelo mesmo ideal que toda humanidade: O RESPEITO!

Onde houver medo haverá injustiça. Onde houver injustiça haverá resistência.



Lika

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o seu blog!
Principalmente este texto!
Me emocionou bastante, acredite.

Eu tenho apenas 17 anos, me descobri de fato a pouco tempo.
Mas já passo por poucas dificuldades em relação à preconceito por enquanto... diante do que sei que vou enfrentar por aí.
Principalmente na família.

Eu sou apaixonada (AMOOO) uma menina...
ainda nao estamos namorando, mas o que eu pretendo é passar minha vida toda ao lado dela.

PARABENS PELO BLOG, mais uma vez!

Coloquei o endereço nos meus favoritos, sempre que der dou uma passada por aqui.

De Qualquer Maneira!